ENTRE PIERRE RIVIÈRE E FRANCELINA JUGULETO: FOUCAULT PARA FEMINISTAS
Resumo
Neste texto, faço um paralelo entre duas vidas infames que acabaram caindo nas teias do poder ao serem acusadas de assassinato: Pierre Rivière, um camponês francês que matou três familiares em 1835, e Francelina Juguleto, uma mulher gaúcha e do campo que matou o marido em 1940. Dialogando com o feminismo da diferença e a filosofia foucaultiana, pretendo partir da relação entre essas duas figuras para pensar a construção da mulher, uma categoria histórica que não existe como essência fixa, mas sim como produto de confrontos discursivos. Além disso, também parto desse paralelo para discutir como a obra de Michel Foucault pode ser útil para a epistemologia feminista. Afinal, o filósofo francês pode não ter se concentrado nas mulheres, mas seus estudos nos deixaram inúmeras ferramentas para problematizarmos os jogos de poder que nos constituem e para percebermos que, se há uma tentativa de conduzir nossas condutas, também há vidas que, ou criam outros modos de existência, ou subvertem o que delas se esperam, indicando que, para além do poder, há a resistência, e, para além do governo, há a liberdade.